sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Extermínio Indireto e Silencioso de Espécies

O PRESENTE TRABALHO DE CIDADANIA TEM POR OBJETIVO ALERTAR SOBRE AÇÃO PREDATÓRIA DE ESPÉCIE EXÓTICA INVASORA SOBRE A BIODIVERSIDADE DAS AMÉRICAS, HÁ MAIS DE CINCO DÉCADAS.

Cópia do Trabalho também pode ser baixada no anexo.

A seguir a íntegra do Trabalho:

 

O Extermínio Indireto e Silencioso de Espécies da Biodiversidade

 

 

As florestas da Região Amazônica despertam um grande interesse mundial, certamente porque a área de 370 milhões de hectares de matas ¹ naturais, com árvores de grande porte, se constitui hoje na mais importante reserva florestal, fator básico para preservação da função climatológica da Região assim como do Planeta.

 

Não existe em nenhuma outra parte do mundo área equivalente com as mesmas características de mata natural e primitiva. A biodiversidade ali contida, flora e fauna, impressionantemente rica, é o Patrimônio Natural da Humanidade, o qual deve ser preservado a qualquer custo, e por isso mesmo que qualquer tipo de desflorestamento é inaceitável.

 

Sabe-se que a origem de desflorestamentos pode ser por ação Natural e por ação do Homem, antrópica. Sobre a primeira ação muito pouco podemos fazer e, felizmente, o seu impacto na região é muito pequeno.

 

O desflorestamento pela ação do Homem, até a presente data é o que mais preocupa, por ser a principal causa de perdas da biodiversidade, e preocupa por ser visível e mensurável, pois facilita uma análise mais precisa sobre o que advirá, em tempos futuros.

 

Atualmente em quase todos os veículos informativos, com freqüência, aparecem dados estatísticos, sobre o avanço do desflorestamento anual na Amazônia, pois essa região é monitorada via satélite. O homem na sua ganância, estimulada pelo Agronegócio, resolve desflorestar, desmatar para ampliar as pastagens destinadas à criação extensiva de bovinos e bubalinos e, paralelamente, aumentar as já extensas áreas para plantio de vegetais de espécies alienígenas.

 

Não fazem parte do presente trabalho, mas outras atividades desenvolvimentistas como a mineração, a exploração de petróleo, a construção e a ampliação de infra-estruturas, também contribuem para o desmatamento.

 

Segundo estatísticas atuais, as perdas em função do desflorestamento visível (monitorado) alcançam valores da ordem de 23.000 km² por ano ¹. Neste ritmo, ao longo de poucas gerações (aproximadamente 100-150 anos), os milhões de hectares de florestas atuais da Bacia Amazônica, deixarão de existir.

 

Estas estatísticas, no entanto, NÃO consideram o desflorestamento processado por um agente polinizador alienígena, indetectável por satélite, que por agir indireta e silenciosamente, em sua inocente luta diária pela sobrevivência, executa o DESFLORESTAMENTO INVISÍVEL. Esta forma de desflorestar é pior que a dos bovinocultores.

 

O desflorestamento para criação de gado ou para agricultura é visível e por isso detectável por satélite, mas aquele que as abelhas africanas vêm executando de maneira ampla, intensiva e sem interrupção, há mais de meio século a partir do Brasil e progressivamente alcançando os demais países das Américas, não é identificado pelas lentes das câmeras fotográficas dos satélites, mas sim pelos “olhos” da mente daqueles que conhecem profundamente o comportamento desta raça de abelhas.

 

Por um lado a ação catastrófica deste agente alienígena invasor sobre a maior parte da  biodiversidade do Continente Americano, compreende a subtração/retirada de astronômicas quantidades de materiais produzidos pela flora nativa, o néctar e o pólen, parceiros fundamentais no processo da polinização mediante o qual se assegura a frutificação, sendo esta última responsável pela reprodução, multiplicação, e perpetuação da flora nativa.

 

Por outro lado, estes produtos florais, néctar e pólen, são também parceiros fundamentais no processo da perpetuação dos agentes polinizadores nativos (abelhas indígenas com ou sem ferrão), como fornecedores de carboidratos e proteínas necessários para que estes animais possam cumprir a sua função na natureza, ou seja, realizar a polinização de um grande número de espécies da flora nativa do Continente Americano. Nossas florestas não existiriam sem a participação imprescindível destes agentes polinizadores, as abelhas nativas, e a de outros animais polinizadores.

 

A dimensão deste impacto criado pelas abelhas africanas pode ser mensurado indireta e parametricamente, conhecendo-se os valores que estão implícitos neste processo de desflorestar invisível:

 

-            Densidade demográfica de colônias de abelhas exóticas invasoras – abelhas africanas – Apis mellifera scutellata: 107,5 colônias por km² na região dos Cerrados em 1971. (MICHENER, C.D. The social behavior of the bees: a comparative study. (O comportamento social das abelhas: um estudo comparativo.) Cambridge, Massachusetts: The belknap press of Harvard University Press, 1974. page 350.)

 

-           Área territorial do Brasil: 8.514.876 km²

 

-           Área territorial dos Cerrados no Brasil ²: 2.000.000 km²

 

-            Consumo de pólen por colônia de abelhas / ano: 40 kg

(David W. Roubik - 1986: "Sporadic food competition wiht the African honey bees: projected impact on Neotropical social bees" - “Esporádica competição alimentar com as abelhas africanas: impacto previsto sobre as abelhas sociais das regiões tropicais”).

 

Com os dados acima podemos afirmar que em 1971 existiam dispersas na área dos Cerrados brasileiros 215 milhões de colônias de abelhas africanas retirando anualmente 8,6 milhões de toneladas de pólen da natureza. Mantidos estes valores ao longo destes 40 anos (1971-2011) concluímos que as africanas subtraíram da natureza neste período mais de 344 milhões de toneladas de pólen, apenas na região dos Cerrados.

 

A quantidade de pólen subtraído seguramente é muito maior pois, a densidade demográfica de colônias de abelhas africanas não se manteve constante, pelo contrário aumentou ao longo dos anos, a partir da metade da década de oitenta do século passado. Dados atuais registram que cada colônia de abelhas africanas/africanizadas, mantida em apiários e/ou de maneira silvestre nas matas e cerrados, libera anualmente na natureza de 2 a 3 enxames reprodutivos (não enxames de abandono) dependendo da região do Brasil. Algumas publicações / relatos recentes (2009-2010) informam um número de até 10 ocorrências de enxames/colônia ano (florestas artificiais de Acacia mangium, RR. Roraima, Brasil)

. No link:

http://images.projapi.multiply.multiplycontent.com/attachment/0/TWpLSQooCtUAAHH4ZKc1/MULTIex.pdf?key=projapi:journal:31&nmid=418955974 é mostrada uma representação esquemática da velocidade de multiplicação das colônias de abelhas africanas, em três situações distintas, considerando a liberação de 1, 2 e 3 enxames por colônia/ano.

 

Esta enorme capacidade de multiplicação das abelhas africanas/africanizadas gera grande quantidade de enxames (novas famílias) fora do controle do homem que, sustentadas pela flora melissotrófica nativa, que as supre com abundância de pólen e néctar, possibilitou a esta espécie de abelhas, invadir migrando, vastos territórios da maioria dos países das Américas.

 

As abelhas africanas nunca foram, não são e nunca serão necessárias como agentes polinizadores para perpetuar as espécies de vegetais nativos, pois o Continente Americano dispõe de polinizadores indígenas próprios. Só no território brasileiro existem centenas de espécies de abelhas eussociais (que vivem em sociedade) e aproximadamente 5.000 espécies de abelhas solitárias (‘A MANDAÇAIA’ - Davi Said Aidar 1996, pagina 9). Isto quer dizer que a nossa flora nativa conta com uma riquíssima melissofauna polinizadora, o que torna as abelhas africanas, verdadeiramente DESNECESSÁRIAS, para ONTEM, AGORA E SEMPRE, pois elas são polinizadores alienígenas invasores, sem afinidades (vínculos) com a flora nativa.

 

Diariamente logo cedo, muito antes das abelhas nativas saírem de seus ninhos em busca de alimentos, as abelhas africanas, que saem para coletar alimentos mais cedo que as nativas, subtraem o pólen das flores, tanto das masculinas quanto das hermafroditas, desnudando as anteras (1) e, ao retirarem o pólen das flores inviabilizam o trabalho natural dos agentes polinizadores nativos.

 

A partir daí a ação das abelhas nativas, responsáveis pelo processo de polinização natural, torna-se deficiente e, em certos casos interrompe-se, afetando a reprodução das plantas (esterilidade). É crescente o número de espécies da flora nativa do Brasil já identificadas com o problema de esterilidade decorrente da ação das abelhas africanas/africanizadas.

 

Sabe-se que sem a geração de frutos não há sementes e sem as sementes não há multiplicação das plantas e, obviamente, a flora nativa não se renova.

 

È necessário que cada pessoa saiba que, mesmo quando as africanas visitam flores cujo tamanho as facilita para polinizá-las, esse aparente “benefício” prestado às flores de plantas nativas, na realidade é um “desserviço” para o meio ambiente, pois os alimentos que as abelhas africanas retiram das flores, vai fazer grande falta para os polinizadores nativos, os quais de ano para ano, vão diminuindo em número e em presença, nas regiões onde há presença de colônias de africanas/africanizadas.

 

A conseqüência disto é um lento, gradual e imperceptível processo de extermínio de espécies, da flora nativa e fauna indígena, respectivamente, seja pela ausência de polinização, como pela falta de alimento (néctar e pólen), afinal as abelhas de espécies indígenas não são AERÓFAGAS.

 

No dia 26 de abril de 2005, este fato, “O Extermínio de Espécies Nativas”, foi denunciado pelo Técnico em Apicultura Sr. Nikolaos Argyrios Mitsiotis em palestra realizada na ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo – Piracicaba – São Paulo – Brasil e, no mesmo ano, por meio do artigo Inaceitáveis as Abelhas de Raças Africanas” publicado na revista “MELISSOKOMIKÓ BHMA” (2), órgão da Federação das Associações de Apicultores da Grécia – www.omse.gr, presidida na época pelo Sr. Gerásimos Krágias.

 

Em todo território brasileiro atualmente é possível se deduzir a existência de aproximadamente 1 bilhão de colônias de abelhas africanas dispersas na natureza, as quais subtraem anualmente cerca de 40 milhões de toneladas de pólen, sem alguma preocupação por parte das autoridades e das entidades responsáveis pela preservação ambiental, e por isso sem nenhum controle. Se nada for feito nos próximos 50 anos esta quantidade alcançará aproximadamente 2 BILHÕES DE TONELADAS DE PÓLEN, coletado e consumido pelas abelhas africanas e as africanizadas. Diante disto perguntamos: e todo esse astronômico volume de pólen que as abelhas africanas vem coletando e consumindo desde a sua introdução no Brasil (1956), não fez, não faz e não fará falta para as espécies nativas da fauna de polinizadores?  Não fora, não é e não será subtraído o PÓLEN dos pastos melissotróficos que há milhões de anos vem suprindo com alimentos as espécies de polinizadores indígenas, do território brasileiro?

 

Este impacto ambiental não terá outro encaminhamento enquanto perdurarem as omissões por parte da imprensa e de todas as Instituições Públicas envolvidas neste assunto que é de suma importância para a sustentabilidade da biodiversidade do Brasil e das Américas.

 

O que está relatado acima é de amplo conhecimento das Instituições Científicas do País e dos Institutos Ambientalistas, geridos ou não como ONG’s (Organizações Não Governamentais), os quais reconhecem que a abelha africana é espécie exótica invasora e, assim mesmo e com seu silêncio, validam todos os projetos direcionados à instalação de apiários de abelhas africanizadas, mesmo que estejam planejados a serem instalados em áreas de proteção ambiental, seja na Amazônia ou na Mata Atlântica (o que resta dela), disseminando cada vez mais o agente polinizador alienígena invasor.

 

Dentre os Órgãos Oficiais não há uma única voz discordante, então, lamentavelmente e com desapontamento, podemos deduzir que para essas Entidades as abelhas africanas/africanizadas são AERÓFAGAS, inofensivas!

 

A solução desse problema ambiental do Brasil e das Américas é bastante simples mas tem uma magnitude continental. O Projeto “Aristeu nas Américas”, elaborado pelo Sr. N. Mitsiotis (3), detalha todas as etapas e ações necessárias para erradicar as abelhas africanas, mas esta implementação exigirá a aplicação de grandes recursos financeiros e, o apoio integral de todos os governos Municipais, Estaduais e Federal do Brasil, assim como a concordância e honesta cooperação dos demais países do Continente Americano para europeização da apicultura deste Continente. Toda cooperação e participação dos países Europeus, também são muito bem vindas, para preservação desta biodiversidade que é um Patrimônio Natural da Humanidade.

 

Cumprimos nosso dever de informar.

 

Ricardo Dirickson

Projapi – Projetos Apícolas

São Paulo – São Paulo – Brasil

Fone: 55 11 8208-0422 - Tim

 

 

(1)  http://images.projapi.multiply.multiplycontent.com/attachment/0/TU8X9AooCtUAAF@E@oE1/raspando%20as%20anteras.pdf?key=projapi:journal:1&nmid=246284285

(2)  http://images.projapi.multiply.multiplycontent.com/attachment/0/TTw0RwooCtUAACUIBGg1/_INACEIT%20port%20corrente.pdf?key=projapi:journal:1&nmid=246284285

(3)    http://projapi.multiply.com/journal/item/8/8

 

¹ Gordon and Betty Moore Foundation – www.moore.org

 

² Brazilian Bee Surveys: State of Knowledge, Conservation and Sustainable Use

 

Attachment: EXIMES rf.pdf

Velocidade de Multiplicação das Abelhas Africanas

O anexo apresenta de modo esquemático 3 situações distintas de ocorrência de enxameações com abelhas africanas e comentários a respeito.
Attachment: MULTIex.pdf